Distrito da Ribeira se destaca na Rota do Couro com design criativo, geração de renda e identidade cultural fortalecida no Cariri paraibano
O artesanato em couro transformou a realidade de famílias no Distrito da Ribeira, em Cabaceiras, ao se tornar motor de desenvolvimento econômico e atrativo turístico. Com apoio do Sebrae-PB, a região ou a integrar oficialmente a Rota do Couro em 2024, fortalecendo o turismo criativo e a economia local.
Em meio à paisagem árida do Cariri paraibano, o couro, antes símbolo de resistência do homem sertanejo, ganhou novo significado nas mãos de artesãos que mesclam tradição com design contemporâneo. No Distrito da Ribeira, zona rural de Cabaceiras, a Cooperativa Arteza lidera um movimento que envolve cerca de 500 pessoas em torno da produção artesanal de peças como bolsas, chapéus e sandálias, com destaque para o couro de bode.
Além da força econômica, o artesanato local tem ganhado destaque também como atrativo turístico. A produção cresceu tanto que ou a integrar o roteiro de visitantes que buscam experiências autênticas no interior nordestino. E Cabaceiras já possui uma vocação reconhecida para o turismo cultural: conhecida como a “Roliúde Nordestina”, a cidade foi cenário de clássicos do cinema e da televisão, como O Auto da Compadecida (2000) e outras produções que ajudaram a consolidar sua imagem nacional.
Criada há 27 anos, a cooperativa Arteza reúne hoje 75 sócios ativos e 25 pequenas fábricas, produzindo de 12 a 15 mil peças por mês. Segundo o diretor financeiro Lucas de Araújo Castro, a iniciativa elevou o valor simbólico e econômico do artesanato local, antes limitado a itens funcionais do dia a dia rural.
“A cooperativa mostrou que nosso produto pode ir além do vaqueiro. Hoje atingimos classes C, B e A, com um item que carrega a identidade do Cariri”, explica Lucas, cuja família está na quinta geração de artesãos.
Outros empreendedores também têm inovado na produção. A empresária Gabriela Andrade, junto ao irmão e ao marido, criou a marca Vôtti, especializada em calçados de couro com design autoral e cores vibrantes. Com produção feita em oficina rural e comercialização no Mercado de Artesanato da Paraíba, em João Pessoa, a marca atende também Salvador, Recife e São Paulo.
Gabriela conta que tudo começou em 2013, na garagem da casa dos pais, com chapéus e sandálias trançadas. O diferencial surgiu com o desejo de criar: “A gente começou a desenhar as sandálias e a trazer cores. Criamos nossos próprios modelos. Quando o cliente ouve que foi tudo feito por nós, ele se encanta.”
Em 2024, a Rota do Couro foi oficialmente sinalizada como parte do Programa de Agentes de Roteiros Turísticos (ART), promovido pelo Sebrae-PB com orientações do consultor Ayron Santos. Todos os empreendimentos participantes aram a contar com placas de identificação, fortalecendo o circuito e a recepção turística. Gabriela, inclusive, já se prepara para construir uma loja anexa à oficina: “Estamos comprando o material. Queremos que o turista tenha um espaço para ver o produto final e vivenciar essa história.”
Segundo o Sebrae, Cabaceiras possui 40 empresas ligadas à produção de objetos em couro, sendo 32 registradas como microempreendedores individuais (MEIs). A prefeitura identificou 57 oficinas ativas, três delas em municípios vizinhos, mas integradas ao circuito produtivo da cidade.
A especialista em educação empreendedora Suellen Albuquerque acompanha esse crescimento desde 2008. Para ela, o sucesso do artesanato local está na identidade, na qualidade e na formalização dos negócios. “Cabaceiras é um polo da economia criativa. Quem criou marca e investiu em design conquistou o mercado. A cooperativa Arteza é um caso exemplar de como tradição e inovação podem caminhar juntas.”
Suellen também destaca a importância da matéria-prima local e do saber ancestral: “O couro produzido no próprio município carrega o DNA do Cariri paraibano. Isso valoriza ainda mais as peças e garante aos artesãos uma posição de destaque no mercado.”
Com tradição, inovação e apoio institucional, Cabaceiras transforma o couro em expressão cultural, instrumento de renda e símbolo de resistência criativa. A Rota do Couro se consolida como destino turístico que valoriza o fazer manual e ressignifica a identidade do Cariri paraibano para o Brasil e para o mundo.
Alesandra Lontra
